domingo, 18 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
segunda-feira, 12 de março de 2012
Quote VI
“I gradually became aware that my interiority was inseparable from my exteriority, that the geography of my city was the geography of my soul.”
― Aleksandar Hemon
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Paisagens Sonoras V
7. Soundscapes e Marketing Territorial
A música, enquanto produção cultural de um grupo ou indivíduo, é também um produto cultural da paisagem onde esses indivíduos actuam e nele imprimem a sua marca, seja através da cultura dominante ou das culturas alternativas, denominadas no meio musical de underground. Esse produto cultural das paisagens, as Soundscapes, torna-se ao mesmo tempo um elemento diferenciador de um determinado espaço e dos grupos sociais que o compõem, ou seja, da relação homem/meio imprimida na paisagem, valorizando e transformando-o num elemento diferenciador em relação a outros territórios. É um elemento de afirmação de uma identidade, várias vezes adoptando um cariz político e nacionalista, tornando-se até um símbolo acústico de uma identidade nacional ou étnica. O simbolismo e mediatismo de algumas Soundscapes, perpetuadas na memória colectiva pelo cinema e música tradicional, como a música Polka (na Boémia), o Tango na Argentina, ou o Samba no Brasil, viram na World Music um meio de valorizar o seu território pela riqueza cultural da sua Soundscape. Através de estratégias de marketing territorial, procuram a promoção de lugares, de modo a aumentar a sua centralidade na captação de turistas e novos residentes, promovendo a sua soundscape como produto turístico que se pretende vender, e como património cultural, que se pretende preservar.
Embora as Soundscapes não sejam exclusivas dos meios urbanos, é aí que se destacam pela sua dimensão no território em que se inserem e pelo dinamismo, inovação e competição que caracterizam os meios urbanos. A heterogeneidade e cosmopolitismo do meio urbano possibilitam a existência de diferentes matrizes culturais, logo, diferentes Soundscapes, como em Nova York. Algumas cidades são conhecidas mundialmente pelas suas Soundscapes, sendo algumas até icónicas de determinada cidade, como o Tango, em Buenos Aires, ou Liverpool dos Beatles. As Soundscapes marcam cidades e identificam-nas (Fernandes 2008). Lisboa e o Fado, Dublin e a música Folk, Seatle e o Grunge, Sevilha e o Flamengo, são marcas indissociáveis no contexto do marketing territorial.
Apesar das expressões artísticas sonoras resultarem de complexas mobilidades de populações, instrumentos musicais e estilos sonoros, que criam fenómenos de partilha, de hibridismo e diversificação, muitos géneros musicais, em especial os classificados como música tradicional, são associados a lugares específicos (Fernandes 2009). A World Music, enquanto manifestação multiterritorial, constitui-se como um produto numa lógica de concorrência global, na qual as indústrias culturais promovem as respectivas Soundscapes e lhe dão amplitude, através do seu poder de difusão e captação de mercados. A promoção de uma soundscape é realizada pela estetização da sua soundmark, utilizando para tal não só a música, como também o cinema e a arte, onde a imortalizam.
A crescente popularidade da World Music é uma das expressões da globalização sociocultural, económica e tecnológica que se estruturou nas últimas décadas (Fernandes 2009). A criação dos Grammys para a World Music e a criação, pela UNESCO, do estatuto de Património Oral e Imaterial da Humanidade, são exemplos do crescente interesse na World Music e da sua afirmação global. A passagem do analógico ao digital e a compressão espaço-tempo, resultado das inovações tecnológicas das últimas décadas, foram também determinantes na sua afirmação, na medida que tornou possível a sua difusão e captação por um número cada vez maior de indivíduos.
A sua projeção global deve-se também ao seu carácter multiterritorial. A sua territorialidade é amiúde utilizada, através da propaganda e do marketing territorial, como símbolo de um Estado, de uma Nação ou de uma região. Em Portugal temos o exemplo do Fado, o Folk na Irlanda ou o Tango na Argentina, funcionam como expressões de uma homogeneidade e união utópica de um território.
A música é também símbolo de determinados espaços topológicos, identificando-se como símbolo de agregação identitária de múltiplas diásporas, com origem comum, num centro difusor, e vértices de acolhimento, onde ocorre uma encenação desse centro. Existem diversos exemplos destas diásporas no mundo, como a da música indiana, da música folk ou dos ritmos africanos que, não raras vezes, sofrem processos de hibridismo durante a sua deslocalização.
A componente territorial da música é também “um meio de reterritorialização, de recuperação de vínculos sociais e espaciais e conquista de poder por grupos que, por não pertencerem às elites socioeconómicas e políticas, têm instrumentos menos eficazes de afirmação” (Fernandes 2009).
A crescente concorrência global na captação de investimentos e fluxos, leva a uma tentativa de adquirir maior centralidade e maior polarização, através do marketing territorial, e é neste contexto que a World Music, pela sua multiterritorialidade, pela forma como se reproduz na rede de indústrias culturais, se projecta nesta época de digitalização da informação e, apesar da sua origem híbrida e de contacto, se vincula a determinados espaços geográficos, interfere na (re)construção da imagem de lugares e, com isso, no marketing territorial dos mesmos (Fernandes 2009).
Referências Bibliográficas
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Tuan, Yi-Fu. (1983). Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Trad. de Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL.
Programa Nacional de Barragens - Crime
The Portuguese dam program: economic and environmental disaster
GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, CEAI, Aldeia, COAGRET, Flamingo, SPEA, MCLT
August 2011
Summary:
The Portuguese large dam program has been advertised as renewable energy, solution to pollution, external dependence and energy storage. In fact, new dams will become a huge financial burden and alleged goals would be better achieved with alternative investments.
- The dam program will represent a 10% increase in the electricity bill. It will burden State budget and consumers by an estimated 16 000 M€ in the next 75 years;
- The dam program has wrongly been propaganded as a “private investment”. In fact, it is supported by a “guaranteed power” State subsidy amounting to 49 M€ per year;
- International experience shows that energy efficiency is by far the best investment in the energy industry – shown by a constant reduction of energy intensity in the past two decades e.g. in the EU, USA, Canada, Russia, China and India (unlike Portugal);
- In Portugal, the best investments in energy saving projects cost 10 (ten) times less than new dams; refitting of old dams costs 6 (six) times less than new ones. Energy efficiency creates new jobs and large net value. Economically interesting investments in energy efficiency could save 25% or more of current energy consumption;
- New dams represent only 0.5% of primary energy, 3% of electricity demand and 2% of potential energy savings in Portugal. The alleged “national public interest” is false;
- Energy efficiency and new dams are incompatible: they compete for investment funds, State budget incentives, financial effort of consumers and skilled labour;
- Last but not the least, contrary to propaganda, large dams are among the worst energy production systems regarding social and environmental impacts: they imply very significant loss of cultural heritage, loss of jobs in tourism, loss of railway mobility, loss of biodiversity, loss of agricultural soil, loss of unique landscapes.
The whole dam program should be immediately suspended and revoked.
- The dam program will represent a 10% increase in the electricity bill. It will burden State budget and consumers by an estimated 16 000 M€ in the next 75 years;
- The dam program has wrongly been propaganded as a “private investment”. In fact, it is supported by a “guaranteed power” State subsidy amounting to 49 M€ per year;
- International experience shows that energy efficiency is by far the best investment in the energy industry – shown by a constant reduction of energy intensity in the past two decades e.g. in the EU, USA, Canada, Russia, China and India (unlike Portugal);
- In Portugal, the best investments in energy saving projects cost 10 (ten) times less than new dams; refitting of old dams costs 6 (six) times less than new ones. Energy efficiency creates new jobs and large net value. Economically interesting investments in energy efficiency could save 25% or more of current energy consumption;
- New dams represent only 0.5% of primary energy, 3% of electricity demand and 2% of potential energy savings in Portugal. The alleged “national public interest” is false;
- Energy efficiency and new dams are incompatible: they compete for investment funds, State budget incentives, financial effort of consumers and skilled labour;
- Last but not the least, contrary to propaganda, large dams are among the worst energy production systems regarding social and environmental impacts: they imply very significant loss of cultural heritage, loss of jobs in tourism, loss of railway mobility, loss of biodiversity, loss of agricultural soil, loss of unique landscapes.
The whole dam program should be immediately suspended and revoked.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Quote V
"The real voyage of discovery consists of not in seeking new landscapes but in having new eyes"
Marcel Proust
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